(A J. Félix dos Santos)
Sempre o futuro, sempre! E o presente
Nunca! Que seja esta hora em que se existe
De incerteza e de dor sempre a mais triste,
E só farte o desejo um bem ausente!
Nunca! Que seja esta hora em que se existe
De incerteza e de dor sempre a mais triste,
E só farte o desejo um bem ausente!
Ai! Que importa o futuro, se inclemente
Essa hora, em que a esperança nos consiste,
Chega… é presente… só à dor assiste?...
Assim, qual é a esperança que não mente?
Chega… é presente… só à dor assiste?...
Assim, qual é a esperança que não mente?
Desventura ou delírio?... O que procuro,
Se me foge, é miragem enganosa,
Se me espera, pior, espectro impuro…
Se me espera, pior, espectro impuro…
Assim a vida passa vagarosa:
O presente, a aspirar sempre ao futuro:
O futuro, uma sombra mentirosa
O presente, a aspirar sempre ao futuro:
O futuro, uma sombra mentirosa
In: Sonetos
(1842-1891)
É isso, a vida passa sim, mas não sei se vagarosa. O que eu sei é que preocupados com o futuro não vivemos o presente, praticamente. Preparamos o momento seguinte, o dia de amanhã, a próxima semana, o mês que há-de vir, os anos vindouros, a reforma.
O trágico disso tudo é que nem sabemos se estamos vivos na milésima de segundo seguinte que o tempo transpõe no seu movimento aparente e inexorável, deixando de ser futuro.
Mas, Antero resolveu o problema. Espírito inquieto, meditativo, indo até ao âmago do valor das coisas, tomou o assunto nas suas mãos, agarrou o presente, fê-lo seu, acabando assim com todas as tuas dúvidas, numa atitude radical.
Eu, porém, prefiro a vida, a vida vivida momento a momento, numa gargalhada, num sorriso, num abraço. Também eu quero gerir esse presente, mas de outro modo: encarando a Vida como uma dádiva.
A todos os que por aqui passarem, desejo um bom domingo.
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Poema: Banco de poesia Fernando Pessoa
Imagem: Pixabay
Gosto muito do Antero e lamento muito a sua incapacidade
ResponderEliminarpara se ajustar à vida, a sua profunda tristeza...
Resolveu partir antecipadamente por se encontrar doente
e o excesso de pesquisa filosófica muito contribuiu para o
trágico desfecho.
Penso oportuno agradecer sermos abençoados com equilíbrio
e harmonia de afetos que nos concede alegria de viver.
Beijinhos, estimada Olinda.
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A vida deve ser viva na sua plenitude no momento presente. Questionar o futuro pra quê? Ele virá de uma forma outra. Deixemo-lo onde deve estar para desfrutar do agora
ResponderEliminarUm feliz domingo Olinda
Beijos
É uma grande verdade. Toda a gente se preocupa com o futuro esqquecendo o presente, e o presente é a única coisa que temos.
ResponderEliminarUm abraço e uma boa semana
Encarar a vida como uma dádiva. É a atitude que me agrada. Gostei de encontrar aqui o Antero de Quental. Até me apeteceu relê-lo.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Uma dádiva, sim,a Vida é isso!
ResponderEliminarGeneroso e Belo é o teu «post» e Antero um poeta maior.
Beijinho grande
Na verdade
ResponderEliminaros rios passo a passo correm para o mar
mas são precisas pontes
para os nossos
Excelente escolha para a reflexão que aqui partilhas. Antero não conseguiu harmonizar o seu eu e a realidade exterior a ele. Eu tento viver bem o presente, nunca fui de saltar etapas.
ResponderEliminarQue saibamos sorrir (sempre) à vida!
Bjnho, OLinda :)